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Hanna Rodrigues

3 aprendizados de uma campanha de financiamento coletivo

Atualizado: 12 de mai. de 2020

Era dia 17 de Março.

Os casos de Covid-19 estavam aumentando no país e algumas empresas já haviam anunciado o home office para parte de seus empregados. Alguns cinemas e casas de show já estavam totalmente fechados e diversos estabelecimentos comerciais já se preparavam para a crise que se anunciava.


Pela manhã recebemos a notícia de que algumas cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Rio de Janeiro iriam paralisar suas atividades ainda naquela semana. Foi o primeiro baque neste elo importante da nossa cadeia de valor, a COOPAMA, que recebe e processa os recicláveis dos nossos clientes. A decisão dessas cooperativas, inclusive da nossa parceira de negócios, não estava sendo tomada devido à queda da quantidade de material reciclável, mas sim como uma medida para preservar a vida e a saúde dos cooperados. Muitas cooperativas têm, em sua equipe, pessoas do grupo de risco. Além disso, grande parte dos cooperados são moradores de comunidades e possuem acesso limitado a serviços de saúde de qualidade e saneamento básico. Muitos moram em casas com muitos familiares, o que os torna (e as suas famílias), ainda mais vulneráveis em uma situação de pandemia. É importante mencionar também que o trabalho das cooperativas, por si só, já expõe os cooperados a um maior risco de contaminação.

O caminho “natural” foi fechar as portas.


Foi como uma bomba, pois sabíamos que o impacto seria avassalador. Com as atividades paradas, muitos catadores ficariam sem nenhuma fonte de renda durante todo o período de isolamento.


Como construir uma campanha de financiamento coletivo do zero


Nosso “instinto” foi imediato: precisávamos nos mobilizar e nos articular para reduzir esse impacto e, minimamente, garantir alimentos para os catadores durante esse período. Foi assim que surgiu a ideia da criarmos uma campanha de financiamento coletivo para comprar cestas básicas para catadores de cooperativas do Rio de Janeiro. Nosso primeiro passo foi criar um “Comitê de Crise” com a liderança da COOPAMA, a COOPFUTURO e mais alguns amigos queridos, como a Cynthia Takamoto, produtora executiva cultural. Nossos valores nos guiaram e, desde o início, a campanha foi uma construção coletiva, em colaboração com esse grupo tão importante. Criamos um espaço aberto a ideias e as decisões eram coletivas. Naturalmente, diversos questionamentos surgiram: quais cooperativas seriam primeiramente beneficiadas? Qual valor precisaria ser arrecadado? Daríamos as cestas ou o dinheiro para os catadores, até quando arrecadaríamos os recursos, etc.?


Era preciso colocar a mão na massa, e rápido. Foram duas noites (cansativas!) elaborando o projeto, pensando em possíveis parcerias e estudando as melhores estratégias de torná-lo uma realidade. Decidimos usar a plataforma da Benfeitoria, que prevê a entrega de recompensas para os benfeitores, como uma maneira de gerar vínculo entre quem elabora o projeto e os apoiadores.


Sabe aquelas trocas que mencionamos no texto sobre a Teoria da Dádiva? Está aqui um exemplo delas: simbólicas ou não, elas fortalecem não só as relações e vínculos entre os atores individuais, mas também toda uma rede de solidariedade coletiva. Foi o que vivenciamos na prática.


Mais do que isso, percebemos que poderíamos nos valer das recompensas como uma maneira de envolver outras iniciativas. Fomos atrás de parceiros alinhados com o nosso propósito. Assim, resolvemos olhar para nossos fornecedores e clientes e convidá-los a fazer parte da campanha, oferecendo seus serviços e/ou produtos, e se engajando na causa. A adesão foi incrível, de encher o coração de esperança!! E o resultado não poderia ser diferente.


No total, foram 10 parceiros, entre empresas, iniciativas e pessoas, envolvidos na campanha, para além dos organizadores. A participação de cada uma delas foi crucial para que obtivéssemos o resultado de R$ 24.691,00 arrecadados em 19 dias.


Foi ganha-ganha-ganha:


150 catadores das Cooperativas COOPAMA, COOPFUTURO, COOPIDEAL, COOPBANDEIRANTES, COOPQUITUNGO, COOTRASER e ASSOCIAÇÃO ESPERANÇA foram beneficiados com as cestas básicas. As empresas parceiras fortaleceram a cadeia produtiva e ganharam visibilidade. Os benfeitores puderam se sentir parte desse resultado maravilhoso.





Gostaríamos de aproveitar para agradecer a cada um dos nossos parceiros tão importantes nessa construção: Aline Matujla, Jorge Tonnera Jr, Plataforma YAM, Delírio Tropical, Estação NET, Marchezinho, Intrepda/Conrado Bassini, Mundo Livres, Rio Eu Amo Eu Cuido e Schöpf Papier.


Aprendizados de uma campanha de crowdfunding


  • O seu propósito é o seu norte

Quando o nosso propósito nos guia, os nossos olhos brilham e todos percebem. Isso vale pra vida. Mas também para campanhas de financiamento coletivo. Se o objetivo da sua campanha é a sua causa, então você domina aquele assunto e não será difícil abordá-lo. Escreva com propriedade e deixe claro que você sabe do que fala. Na hora de divulgar a campanha e de procurar parceiros, deixe seus sentimentos transbordarem. As pessoas vão querer estar com você.


  • Sua empresa não está sozinha

Todos nós pertencemos a uma cadeia produtiva, seja como fabricante, produtor, distribuidor, consumidor, cliente, vendedor ou prestador de serviço. Olhe para essa cadeia, se conecte com seus parceiros e seus fornecedores - Eles são a sua cadeia de valor. Olhe também para a sua rede de afinidade – são eles que se conectam com você pelos mesmos valores e princípios. Novamente, estamos imersos, também como empresas, em uma rede de trocas, de relações e vínculos que afetam a maneira como fazemos negócios e como os outros veem o nosso negócio. Essas relações vão além de trocas utilitárias e comerciais – aqui também existe afeto, empatia, valores e simbolismo! Mais do que nunca, é isso que importa no momento.


  • O poder da confiança e da transparência

Confiança é um atributo fundamental para que qualquer relação exista. Não há trocas sem confiança. Foi confiando em nós, empreendimentos organizadores, que as pessoas doaram para o projeto e que os nossos parceiros se envolveram e se engajaram na nossa causa.

A transparência alimenta a confiança. A transparência é importante do início ao final do projeto. É no início, na descrição do projeto, que você deve deixar claro para o seu leitor qual seu público-alvo, seus objetivos e suas metas. Ao final da campanha, é a hora de demonstrar os resultados atingidos e prestar contas aos apoiadores. Consideramos a transparência um pilar essencial para que as trocas se mantenham e se sustentem ao longo do tempo.


Em breve, vamos disponibilizar em nosso site o relatório de prestação de contas da campanha.


Talvez esses aprendizados e ensinamentos não sejam novidades para muitos de nós. Pelo menos não teoricamente. A grande magia acontece, entretanto, quando eles saem do papel, dos livros e dos textos e se transformam em realidade através das nossas mãos. É lindo de se ver, é mágico e é possível!!! Principalmente quando isso acontece em um momento tão delicado como o que estamos vivendo, onde se esperaria que cada um estivesse centrado em cuidar de suas próprias fragilidades. A prática nos mostrou o contrário – nos fortalecemos ao apoiar o próximo, por que nos enxergamos no outro.


Agradecemos a todos que apoiaram a campanha!

Ela não foi o início nem o final de uma caminhada. Ela foi apenas um passo para a Transformação que queremos construir.

Com você.

Com os nossos clientes.

Com nossos parceiros e fornecedores.

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